ANTI-FLORISMO
Não
sou florista
Não aceito como encomenda o que é belofício
Não arranjo palavras em braçadas
para enviá-las a príncipes, amigos, noivos.
Na minha casa, a imaginação é um quartinho
que nem dá para o céu, um esbatido muro barra a visão.
Quem me guia tem os olhos trespassados por cruzes,
salva-me do mar de inefáveis, Jordão sem margens,
quando naufragam as audazes palavras que buscam a terra
prometida do poema.
Douro versos com labor de abelha
Quando no pântano da não-criação
tento distrair-me: não vivo de versos.
Não sou Whitman que cantou o futuro de seu povo!
Ao panteão dos gênios vou somente levar flores e
lágrimas.
Também não tomo para mim o favor "literatura
feminina".
Não sou Anita, Isadora, Espanca torturada,
a minha cabeça descoroada de lutas e louros.
Faço poemas como quem doa passagens para o céu
mas ponho assentado: O SONHO É TERRA LIVRE
Múltiplas mortes delicadamente despetalam à volta:
as folhas decíduas das palavras caem em chão estéril
- resta a árvore.
(Rosana Queiroz)
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