ONDE ESTÁS

É meia-noite... e rugindo
passa triste a ventania,
como um verbo de desgraça,
como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
por meus cabelos fugaz:
"Vento frio do deserto,
onde ela está? Longe ou perto?
Mas, como um hálito incerto,
responde-me o eco ao longe:
"Oh! minha amante, onde estás?..."

Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
vem reclinar-se em meu peito
com teu lânguido abandono!...
Está vazio nosso leito...
Está vazio o mundo inteiro;
e tu não queres que eu fique
solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! minha amante, onde estás?...

Estrela - na tempestade,
Rosa - nos ermos da vida;
Iris - do náufrago errante,
Ilusão - d'alma descrida!
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu!...
...E hoje que o meu passado
para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
pergunto aos ventos do norte...
"Oh! minha amante, onde estás?..."

(Castro Alves)

VOLTAR