A VIA-CRÚCIS DO CORPO
Letra
adaptada de um conto de Clarice Lispector.
Feita para filme homônimo de José Antônio Garcia.
O homem
pode ter suas fêmeas
Mulheres podem ter seus machos
Tudo é possível no amor
Só não volta a infância perdida
Só não nos livramos de morrer à toa
O amor
pode não ter ciúme
A dor pode ser disfarçada
Mas a via-crúcis do corpo
Já foi há muito traçada
Meu
Deus, estamos abandonados
E só nos resta matar
Meu Deus, como a vida é amarga
E doce como chocolate
Será
que eu tenho um destino?
Não quero ter a vida pronta
Como um plano de trabalho
Como um sorvete de menta
Matei,
mataria mil vezes
E mil vezes não me arrependeria
Quem mata por amor tem perdão
Porque o amor é a morte
A
comida na mesa
Os vasos de jasmim
O corpo do ser amado
Enterrado no jardim
Deus,
por que não me procuras?
Tenho sempre que ir a ti
Deus, estamos cansados
Está tudo desequilibrado
Meu crime é um crime comum
Minha infância está perdida
Não há nada demais em matar
O escroto que não te ama
A
via-crúcis do corpo
O mundo caminha assim
A via-crúcis da alma
Essa nunca vai ter fim
(Cazuza - 1989 /Ed. Warner Chappell)
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